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Entrada de Doria não estava nos planos e causou surpresa, dizem governadores

Entrada de Doria não estava nos planos e  causou surpresa, dizem governadores

Foto: Marcos Corrêa/PR

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Bem diferente do clima de março, quando, em meio à reunião com governadores do Sudeste, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), trocaram duras acusações, nesta quinta-feira (21), em videoconferência, que teve início às 10h, os dois assumiram um clima "paz e amor". O tucano foi o terceiro e último governador a se pronunciar em nome dos demais. O detalhe é que o roteiro original, segundo governadores observaram nas coxias, previa apenas que Reinaldo Azambuja (MS), que abriu as falas dos governadores, e que Renato Casagrande (ES) falassem. Foi surpresa para boa parte dos gestores Doria ter ido ao microfone.

Doria começou afirmando que "a guerra coloca todos em derrota". E prosseguiu: "Ninguém ganha em uma guerra e quem perde são os mais humildes. Fico feliz, presidente, por todas as intervenções. Vamos em paz, presidente, vamos pelo Brasil e vamos juntos. É o melhor caminho de vencermos a pandemia". O presidente agradeceu as palavras e parabenizou o governador de São Paulo.

Em março, Doria disparou contra pronunciamento feito pelo presidente um dia antes do encontro, quando Bolsonaro criticara governadores, em cadeia nacional, por adotarem, segundo ele, "conceito de terra arrasada", promovendo fechamento de comércio e escolas. Na ocasião, Bolsonaro, ao rebater, sugeriu ao tucano "sair do palanque" para Brasil "decolar". 

A videoconferência desta quinta-feira (21) foi antecedida por reunião feita pelos governadores na quarta-feira (20). Desde ali, o plano já era manter a harmonia, sem polêmicas. O ponto principal era concentrar as atenções na necessidade de imediata sanção do PLP 39/2020, que cria o Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus. O texto foi aprovado pelo plenário do Senado no último dia 6, liberado para sanção do presidente no dia seguinte, mas não foi sancionado. Nesta quinta-feira, Bolsonaro afirmou que fará isso "o mais rápido possível".

No encontro da quarta-feira, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), que testou positivo para Covid-19, foi representado pelo secretário da Fazenda, Décio Padilha. Nesta quinta-feira, Câmara participou da reunião.

Se a tese da bandeira branca prevaleceu, também se consolidou, na prática, a expectativa que os gestores já tinham, de que o presidente trataria de dividir com os governadores a fatura do veto ao reajuste de servidores.

A alteração que ampliou as categorias isentas de congelamento foi patrocinada, na Câmara Federal, pelo líder do governo Major Vitor Hugo, e, posteriormente, acatada no Senado. O presidente Bolsonaro acabou empurrado a recuar depois que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não viu com bons olhos a flexibilização e pediu veto.

Primeiro a falar na reunião desta quarta-feira, enquanto porta-voz dos Estados, Reinaldo Azambuja (PSDB-MS) realçou que a decisão de vetar ou não o dispositivo era "prerrogativa exclusiva" do presidente. Mas emendou: "Tenha certeza que a decisão que o senhor tomar será respeitada". Definiu como "ponto crucial" a questão salarial. E avisou: "A maioria dos governadores entende que é importante, se assim o senhor achar, vetar esse artigo".

Após citar projeções do Ministério da Economia para 2020 e 2021, o governador do Mato Grosso do Sul considerou o veto "fundamental" e arrematou: "Pedimos que, se possível, vete artigo da possibilidade dos aumentos. Estaremos fazendo isso pelo bem do País".

O governador Renato Casagrande (PSB-ES), que falou na sequência, pediu "coordenação central que oriente posições nossas em cada estado em cada município". E completou: "Deixo sugestão ao presidente da República, agradecendo a oportunidade de estar em ambiente de estabilidade, equilíbrio, nessa situação que nunca esperávamos que fôssemos enfrentar".

Bolsonaro comandou a reunião ao lado dos presidentes da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) em sinal do esforço por pacificação. E, logo no início, sublinhou a necessidade de manter o veto ao reajuste de salários de servidores públicos: "O que se pede aos senhores é a manutenção de um veto muito importante". Isso porque o veto poderia ser derrubado no Congresso. 

Nos bastidores, governadores já vinham pontuando que, da aprovação do Senado para frente, a articulação do Planalto sobre o veto deveria se dar com a Câmara e com o Senado, a quem caberia derrubar. Mesmo assim, a fatura acabou compartilhada, como também já era previsto pelos gestores. Mas ninguém quis briga com ninguém.


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